
Nascida em Itajaí, ela foi a caçula de uma família de uns 18 mais ou menos. Mãe branca, pai comunista e estivador. Ficou orfã com 12 em circunstâncias trágicas para uma criança, vovó se jogou de uma ponte para acabar com a dor da tristeza da recente viuvez. Morou em casa de conhecidos, primos e irmãos, sempre de favor. Ganhou bolsa de estudos para a melhor escola da cidade, de uma ricaça caridosa. Aproveitou a chance e sempre foi a melhor aluna. Exímia datilografa, cintura 58 e se torna secretária do gabinete da Secretaria Municipal de Saúde da cidade.
Juventude de beleza, Rio de Janeiro na década de 60, namoros, vestidos da moda e penteados bolo-de-noiva, mas não se acerta no amor. Conhece um jogador de futebol 10 anos mais novo. Paixão tórrida, escandalosa para época, casa grávida e rompe com os irmãos, radicalmente contra o relacionamento. Ela banca tudo e tem a Ronise em Curitiba. Vive momentos de ouro com a nova família em São Paulo, mas demora a se acostumar com a vida de "viúva de marido vivo".
Na segunda gravidez, sofre constantes ameaças de perder o bebê, cuida da sogra e tem outro parto normal. Guerreira. Nasce Mireille e ela mima a prematura até fazer a mais velha cometer atos extremos de ciúmes, como "vender" a irmã para a vizinha.
Quando menos esperava, ficou grávida do menino, de nome Juarez, como o pai. Presente para o marido amado. Nasceu na véspera de Natal e quatro horas depois do parto, comia churrasco no quarto da maternidade.
Criou os três filhos com disciplina e amor. Sempre nos deu salada e atenção. Não sei como dava conta de tudo. Ficou anos sem ir a um salão de beleza, economizando tudo o que podia para comprarmos a casa própria. Quitou em dois anos. Empreendedora. Mulher de fé inigualável. Teimosa nível master. Fazia pães, cuques e pimentão recheado com carne como ninguém. Era a rainha da festa em Santa Catarina. Reatou com as irmãs depois de anos, e eram magníficas juntas, mas sempre tinha alguma rinha depois dos encontros. Normal.
Levou golpes fatídicos no coração e não foram causados pela hipertensão, sempre muito bem controlada pela alimentação e exercícios físicos regulares, foi ficando triste, magrinha, guardando mágoas e dúvidas, mas antes disso, viveu a alegria de ser avó. Com a mais velha, a Manuella, cuidou como mãe e manteve uma cumplicidade ímpar. Acompanhou Alice, mas já não conseguia pegá-la no colo. E o Noah, foi responsável pelos raros sorrisos dos últimos tempos.
Despetalou, murchou e quis assim. Rosa, Rosa, Rosa, infinitamente, Rosa. E choro, porque a saudade ainda dói!