quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quase tudo sobre minha mãe


Nascida em Itajaí, ela foi a caçula de uma família de uns 18 mais ou menos. Mãe branca, pai comunista e estivador. Ficou orfã com 12 em circunstâncias trágicas para uma criança, vovó se jogou de uma ponte para acabar com a dor da tristeza da recente viuvez. Morou em casa de conhecidos, primos e irmãos, sempre de favor. Ganhou bolsa de estudos para a melhor escola da cidade, de uma ricaça caridosa. Aproveitou a chance e sempre foi a melhor aluna. Exímia datilografa, cintura 58 e se torna secretária do gabinete da Secretaria Municipal de Saúde da cidade.
Juventude de beleza, Rio de Janeiro na década de 60, namoros, vestidos da moda e penteados bolo-de-noiva, mas não se acerta no amor. Conhece um jogador de futebol 10 anos mais novo. Paixão tórrida, escandalosa para época, casa grávida e rompe com os irmãos, radicalmente contra o relacionamento. Ela banca tudo e tem a Ronise em Curitiba. Vive momentos de ouro com a nova família em São Paulo, mas demora a se acostumar com a vida de "viúva de marido vivo".
Na segunda gravidez, sofre constantes ameaças de perder o bebê, cuida da sogra e tem outro parto normal. Guerreira. Nasce Mireille e ela mima a prematura até fazer a mais velha cometer atos extremos de ciúmes, como "vender" a irmã para a vizinha.
Quando menos esperava, ficou grávida do menino, de nome Juarez, como o pai. Presente para o marido amado. Nasceu na véspera de Natal e quatro horas depois do parto, comia churrasco no quarto da maternidade.
Criou os três filhos com disciplina e amor. Sempre nos deu salada e atenção. Não sei como dava conta de tudo. Ficou anos sem ir a um salão de beleza, economizando tudo o que podia para comprarmos a casa própria. Quitou em dois anos. Empreendedora. Mulher de fé inigualável. Teimosa nível master. Fazia pães, cuques e pimentão recheado com carne como ninguém. Era a rainha da festa em Santa Catarina. Reatou com as irmãs depois de anos, e eram magníficas juntas, mas sempre tinha alguma rinha depois dos encontros. Normal.
Levou golpes fatídicos no coração e não foram causados pela hipertensão, sempre muito bem controlada pela alimentação e exercícios físicos regulares, foi ficando triste, magrinha, guardando mágoas e dúvidas, mas antes disso, viveu a alegria de ser avó. Com a mais velha, a Manuella, cuidou como mãe e manteve uma cumplicidade ímpar. Acompanhou Alice, mas já não conseguia pegá-la no colo. E o Noah, foi responsável pelos raros sorrisos dos últimos tempos.
Despetalou, murchou e quis assim. Rosa, Rosa, Rosa, infinitamente, Rosa. E choro, porque a saudade ainda dói!

28 comentários:

  1. Ronise, não tem como não admirar a tua mãe depois do que você contou! Eu acredito em pessoas assim, que fizeram as coisas que lhe pareceram certas, que foram responsáveis pelo bom e o ruim das suas vidas. Era mesmo uma mulher especial que merece muito as tuas saudades.

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  2. Amiga, sinto dizer que a saudade dói pra sempre. O tempo acalma a dor, mas nunca cessa. Importante é manter todas essas histórias cada vez mais vivas em vc, nos seus irmãos, nos filhos de cada um. Assim, sua mãe estará sempre viva tb. Beijo no coração.

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  3. E me fez chorar também. Bonito relato...e força!

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  4. Eu sempre fui o preferido, caçula, rs! E passei os últimos momentos ao lado dela, sempre, linda e eterna Rosa!

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  5. Linda e maravilhosa história. Obrigada por compartilhar. Além de me dar sua amizade, me deu esta história linda para espalhar.

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  6. Eu que perdi meu pai há um ano, quase desmontei lendo seu relato. Pra quem fica só resta, certamente, a saudade, Para alguns, como vc, resta tb a certeza de que sua mãe viveu uma linda vida, foi guerreira.
    um grande abs

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  7. Poucos, muito poucos conseguem transformar a semente de sua dor em flor de poesia. Você conseguiu. Por ser filha dela. Filha de verdade.Q que testemunha o percurso dos pais e reconhece a vida, no sentindo amplo, que emana deles.
    Beijo carinhoso na testa, e obrigado...

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  8. Ai, li e chorei, reli e chorei.Que mulher admiravel.

    Um bj.

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  9. Ronise, parabéns. Texto lindo. Estou super emocionada. Sua mãe deve ter sido uma figura ímpar. =D

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  10. Um post lindo, emocionado e cheio de orgulho por esta mulher guerreira que foi sua mãe!
    Muito bom de ler...
    Beijos
    Bárbara

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  11. Parabéns pela mãe, Ronise. Que mulher guerreira! História de filme! O teu relato foi mesmo emocionante.

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  12. adoreeeeeeeeeei esse pooost!!! vc tentou vender a mi?!!? tadinha!!
    beijos

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  13. Prova de q a fruta nao cai longe do pe! Linda historia! 10, 100, 1000!

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  14. Vc me surpreende... essa vale (A arte não é um trabalho manual, ela é a transmissão de sentimento que o artista experimentou. (Leon Tolstoi).
    K

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  15. Amada Ronise
    A rosa nunca murchou
    Ela gerou outras flores
    Tão lindas quanto ela
    Cheias de viço
    Me entendeu
    Me acolheu
    E me amou como filha
    Ela é eterna

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  16. A todos, meu muito obrigada!
    Nos comentários é que pude perceber o quanto conhecia minha mãe, mas, mesmo assim, acho que soube quase tudo!

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  17. Minha querida, estive fora (encomenda de doces até a alma!!), mas que post maravilhoso...pude perceber seu orgulho pela sua mãe...me sinto assim com a minha que é uma lutadora NATA!!!!
    Sei que ela está lá em cima cuidando de você....não tenha dúvida disso :~)

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  18. QUE ROSA LINDA!! RONISE, CHOREI POR NÓS, POIS ELA TÁ MUITO BEM. AMO-TE!!

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  19. Chorando muito também, porque amanhã faz um mês que perdi a minha. Faz um mês, mas pode ser um dia, um ano, uma eternidade. Mas elas cumpriram o melhor de todos os papéis, sortudas que são.

    @ikegalli

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  20. e fazia uma musse de chocolate... hum... e escondia para mim dentro da geladeira!! kkk pra desespero das namoradas do juba que vieram depois!! kkkkkkk só tenho boas lembranças da dona rosa. mulher serelepe, que gostava de rir e conversar e de fazer seus passeios até itajaí. mulher de sorte. fez uma familia unica!

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  21. Chorei! Q coisa mais linda! E eu morro de medo de perder a minha... Qto mais os anos vão passando o medo vai aumentando. Faz parte? Um beijo!

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  22. Nenhum amor é tão forte como o amor de mãe.História linda.

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  23. Eu sou sobrinha e tudo o que foi falado aí é pouco do que essa mulher representou para mim - ela foi a minha luz, foi o meu porto seguro - em um momento difícil da minha vida ela cuidou de mim como uma filha, era uma sábia, uma mãe, uma amiga - Tenho certeza que ela está descansando em paz,da ultima vez que a gente se falou, ela me avisou que estava preparada para partir, assim como se diz: Sei que tem um lugar de luz me esperando...porque sei que está lá, rodeada de amigos, de paz e muiiiito muiiiito feliz - Cá ( era assim que a gente a chamava ) você foi a pessoa mais importante da minha vida - te amooo demais

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  24. Não consigo dizer muita coisa após este texto, mas
    que história linda a da sua mãe, Ronise.

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  25. Lembro que sempre a encontrava nos ônibus, perambulando pela cidade ... "ficar em casa? Não, tenho muito o que fazer" dizia ela toda alegre! Saudades do sorriso nos lábios e nos olhos dessa mulher!

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  26. Lembro que sempre a encontrava nos ônibus, perambulando pela cidade ... "ficar em casa? Não, tenho muito o que fazer" dizia ela toda alegre! Saudades do sorriso nos lábios e nos olhos dessa mulher!

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  27. Emocionante, delicado e escrito com muito amor. Me fez conhecer um pouco mais sobre a tia que te admirei, obrigada!

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