terça-feira, 20 de abril de 2010

Filadélfia e minha pauta


Como não consegui achar o trecho do filme Filadélfia que queria para retratar a história do post, vou no tradicional: o da cena que Tom Hanks fala com Denzel Washigton, ao som de Maria Callas na ópera La Mamma Morta.

Cansada das pautas policiais, resolvi me embrenhar pela Geral. Achava lindo um repórter sair da redação com uma pauta na mão e uma idéia na cabeça. O Senhor Jornal me deu a missão de acompanhar um seminário de biólogos, eco-tudos e todos os senhores do tempo na Federal, lá no Centro Politécnico. Era para falar com um grande estudioso que tinha defendido tese nos States, que a poluição do ar em São Paulo matava 10 pessoas/mês.
No auditório, fiquei assistindo a porra do evento e calculando o tempo pelo relógio, já que tinham outras duas pautas para cumprir no dia. No meu tempo era assim, repórter tirava a bunda da cadeira e ia atrás de notícia in loco. Na composição da mesa, só as super autoridades especializadas, todas engravatas até anunciarem o Dr. Mestre (meu entrevistado). Calça jeans surrada, camisa de algodão cru e chinelos franciscanos. Sem muito trato e com papéis amarrotados nas mãos.
E começou o blá, blá, blá. Com a cara-de-pau pertinente a um jornalista, me aproximei do palco e fiz um sinal pra o Dr. Ele saiu pela lateral e cochichei "será que você pode falar comigo uns 5 minutinhos, sou do Senhor Jornal..." Ele aceitou na hora e só vi um bando de coleguinhas seguindo a maré. Ao chegar num corredor ao ar livre, o Dr me confidenciou "Acho esses encontros uma chatice, mas fale garota, o que você quer saber?" Sem rodeios, perguntei qual a relação da poluição do ar e as mortes, segundo o próprio estudo, enfim. Então, daquele Dr. com ar de relaxado, saiu a tese. Ele falava comigo e com todos os repórteres, como se fôssemos seus colegas de Harvard. De repente, as palavras foram sumindo, parecia o som disforme da professora do Charlie Brown, quando ele viaja em sala de aula. Fiquei desesperada. Não estava entendendo nada. Como ia escrever a matéria, como o leitor iria então interpretar? Foi então que veio a luz. Tom Hanks como Andrew Becket de Filadélfia, a cena que um dia eu disse que iria reproduzir, quando ele fala com o advogado Joe Miller, interpretado por Denzel Washington "me explique como se eu fosse uma criança de cinco anos". Claquete! A Terra parou, os ponteiros do relógio e a entrevista. "O quê?" falou o Dr. "O senhor pode me explicar o processo como se eu fosse uma criança de cinco anos, porque não tenho condições de assimilar em 10 minutos, um estudo que você fez em anos, mas preciso explicar para o leitor". Dito e feito, ele usou um exemplo bem pedagógico, estilo "suponha que você tenha uma planta, todo os dias submetida a doses de venenos, e blá, blá, blá". Perfeito! The Oscar goes to Tom Hanks mesmo!

5 comentários:

  1. Ainda vou usar esse estratagema, só espero que não seja com um padre!!

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  2. Obrigada a todos que comentaram nesse post, mas confesso ter ficado decepcionada, achei que teria mais opiniões...:(

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  3. Uma vez eu deixei um advogado falar um monte, do alto do seu juridiquês. Depois, com a maior cara de loira, falei: "Agora, traduzindo, o senhor quis dizer exatamente o quê"?

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