quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O ogro da redação


Aviso aos navegantes: esse post tem caráter de recordar momentos vividos na redação de um grande jornal da província de Curitiba, ainda no fim do século passado. Foram momentos de tensão e de que um grupo de jornalistas descobriu na própria pele, o que era o tão recente fenômeno chamado assédio moral.
A chegada - mesmo com quase dois metros de altura, não lembro como aquele homenzarrão surgiu na redação do jornal. Chegou sorrateiro, não falava com ninguém, ou só com alguns membros da mesa de chefes. Uma bela tarde me chamou "como é seu nome? seu horário? suas fontes?" Seco. Voz firme e olhar altivo. Ele causava medo, mas ao mesmo tempo um certo sentimento de riso, porque as bobagens que falava, só rindo.
Em menos de uma semana, virou o assunto da redação. Disso a teoria da conspiração foi um estalar de dedos. As apostas é de que era um espião, futuro todo-poderoso ou então uma "pegadinha". E a presenção do ogro foi tomando corpo.
Ladrão de pautas - Ok, a acusação é grave, mas o sujeito era o maior ladrão de pautas. Ficava ciscando nos computadores alheios, em busca de assunto que ele, com sua experiência internacional, segundo reza a lenda, furtava ligeiramente e depois de dias de ausência, voltava com duas páginas somente com a pauta do repórter que estava se esmerando para uma chamada de primeira. Era na cara dura!
Confronto - Reconheço minha falta de habildiade e maturidade para lidar com o ogro, mas o primeiro contato, não estabelecido comigo, gerou confronto. O dito cujo queria saber sobre o que eu escrevia, num plantão cheio de crimes. Não lembro dos detalhes (mas meus colegas se recordam como se fosse ontem) eu dei uma resposta bem boca-dura e ali ele detectou que eu não seria da tchurma dele. Mas, existia uma pressão constante do ogro, dito protegido da direção do jornal, e que tinha poderes de mandar qualquer um para o olho da rua. Muita gente adquiriu gastrite, partiu para as fluoxetinas e o desespero do choro nos banheiros nessa época. Quando ia chegar a esse estágio, mudei a tática, mas não queria me mutilar.
A repórter do ogro - Não, não cheguei a ser apontada como novo membro da tchurma, mas busquei meu espaço antes de enlouquecer (esse era o objetivo do ogro, de histórias múltiplas com os bambambans do Jornalismo tupiniquim).
Ele me deu a pauta do dia, mas não queria que eu a fizesse no modelinho comum, disse "vai ser primeira página, seja jornalista". Para ele, ser jornalista, era chegar as 8 da manhã e sair as 8 da noite. Fiz a matéria sobre a tal inversão térmica, a foto estava ótima e falei com especialistas sobre o efeito desse fenômeno na saúde das pessoas. No dia seguinte estava mancheteada e a edição, de acordo com o que fiz. Veio a pérola "vou achar um erro grave nessa tua materinha". Ficou horas a ler o texto até gritar "não existe essa palavra otorrino, só otorrinolaringologista", justifiquei que era a forma reduzida de se chamar o profissional e que estava no dicionário. Então, começou o espetáculo. Falou para quem quisesse ouvir que, se essa palavra constasse no dicionário, não no Aurélio, que era mixuruca, ele imitava um mico de circo pela redação, porque "se eu perder para você, vou ganhar de quem?", questionou o personagem (só pode ser personagem né?) Momentos de tensão até, tcharans! existe a palavra e o uso era correto. Ele pagou o mico sim. Esqueceu da minha existência, pegou em pés alheios, escreveu mais matérias que poderiam ser da editoria além da imaginação . E fez discípulos, mas isso é outra história.

9 comentários:

  1. Eu sei quem é! eu sei quem é! ogro é apelido!

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  2. PQP! Lembrei desse cara! Nessa época redação foi emprestada para rodarem um filme acho que era o Power Play... o Ogro ficou na redação "ciscando" a madrugada toda. No dia seguinte uma materia do cara falando mal da produção inteira hahahaha...

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  3. Meu Deus! Que duras lembranças. O ogro era insuportável. Porém, pior que ele, era ver pessoas que pareciam ser centradas acatando o que o sujeito falava e chefias que costumvam pisar nos outros, babando ovo para o idiota... É, ainda bem que a fila anda...

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  4. Ta aí uma prova de q o tempo resolve o q parece ter não solução. Na época, só a fluoxetina me salvava!!! kkkk... Hj encararia tudo de forma bem diferente e menos estressante. E vc tem q concordar: q nós incomodamos essa criatura, isso incomodamos... Adorei o texto, bom pra lembrar e refletir como a gente amadurece!

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  5. Onde ele aprendeu esta técnica de interrogatório? Numa prisão chinesa?

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  6. Instigada pelos comentários feitos no post, twitter e e-mail, percebi que ele ainda deixou cicatrizes em algumas pessoas, mas o tom é mais leve. Pesquisei sobre o paradeiro do ogro e me deparo com a informação de que ele recebeu o Prêmio Esso, vaiado na premiação e criticado por uns figurões da dita "grande imprensa". Sempre em polêmicas.

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  7. Eu soube desse Esso tb, o q me levou a duvidar da seriedade dos prêmios jornalísticos. Mas enfim, esta é outra história e ele não merece tantas linhas.

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  8. Mas que grande... fanfarrão!
    Agora estou curiosa acerca da graça desta pessoa.

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